Meu bebê acorda de hora em hora — o que pode estar acontecendo?
- Academia Do Sono Infantil

- 17 de out.
- 7 min de leitura
Atualizado: 21 de out.
Você coloca seu bebê para dormir, respira fundo e tenta, enfim, descansar. Mas uma hora depois ele acorda. E depois outra. E mais outra. Acordar de hora em hora com um bebê pode ser profundamente exaustivo — física, mental e emocionalmente. É como viver em um ciclo interminável de esperanças frustradas, mesmo quando você sente que está fazendo tudo certo.
Se você chegou até aqui com os olhos cansados e o coração apertado, saiba que você não está sozinha. Essa é uma das experiências mais desafiadoras — e, ao mesmo tempo, mais comuns — da parentalidade. E não, isso não significa que seu bebê "tem algo de errado", que você está "fazendo algo errado" ou que essa fase vai durar para sempre.
Antes de se culpar ou se sentir perdida, vale a pena entender o que pode estar acontecendo. Existem razões reais, naturais e muitas vezes esperadas por trás desses despertares frequentes — e a ciência do sono infantil pode nos ajudar a enxergar o quadro com mais clareza, acolhimento e esperança.
Vamos juntas entender o que pode estar por trás do sono fragmentado do seu bebê — e o que pode ser feito, com gentileza e respeito, para tornar as noites mais tranquilas para toda a família.
O sono infantil: natural, imaturo e em desenvolvimento
Nos primeiros meses (e até anos) de vida, o sono do bebê ainda está em formação. Diferente do que muitos imaginam, os recém-nascidos não nascem sabendo dormir como os adultos. Esse é um processo que se desenvolve gradualmente, influenciado por fatores biológicos, neurológicos e emocionais.
De acordo com a National Sleep Foundation, os ciclos de sono dos recém-nascidos são significativamente mais curtos — variando entre 30 e 50 minutos — e grande parte desse tempo é composta por sono leve, conhecido como sono REM (movimento rápido dos olhos), que pode representar até 80% do sono total. Isso significa que os bebês passam muito mais tempo em um estágio de sono mais sensível, o que os torna naturalmente mais propensos a despertar durante a noite.
Além disso, sabemos que despertares noturnos fazem parte do desenvolvimento saudável do bebê. Uma revisão sistemática publicada na Sleep Medicine Reviews (Galland et al., 2012), que analisou 34 estudos observacionais sobre o sono infantil, mostrou que bebês de 0 a 2 meses podem apresentar até 3,4 despertares por noite, enquanto crianças entre 1 e 2 anos chegam a ter até 2,5 despertares. Esses dados reforçam que o sono fragmentado, especialmente no primeiro ano de vida, é esperado e faz parte do processo natural de amadurecimento do sono.
Ou seja: despertares são normais. Mas quando se tornam muito frequentes, persistentes e passam a impactar o bem-estar da família, vale a pena investigar o que pode estar contribuindo para isso — e, se necessário, buscar apoio.
Principais causas de despertares de hora em hora
1. Associações de sono: quando a forma de adormecer influencia a noite toda
É muito comum que bebês adormeçam com ajuda de elementos externos, como sendo amamentados, embalados ou ninados no colo. Essas formas de aconchego são naturais, válidas e, nos primeiros meses de vida, atendem às necessidades emocionais e fisiológicas do bebê.
No entanto, à medida que o bebê cresce, ele pode começar a despertar entre os ciclos de sono — que duram cerca de 40 a 60 minutos — e, ao não encontrar as mesmas condições em que adormeceu (como o peito, o colo ou o movimento), pode chorar e precisar de ajuda para voltar a dormir. Quando isso acontece com muita frequência, em todos os despertares, podemos estar diante de uma associação de sono não sustentável.
Vale lembrar: nem todos os bebês que adormecem mamando ou sendo ninados vão desenvolver uma associação de sono que exige intervenção. Muitos aprendem, aos poucos, a transitar entre os ciclos por conta própria, sem precisar de mudanças estruturais. O que realmente importa é observar se o padrão atual está funcionando para a família como um todo — e, se não estiver, pode ser o momento de repensar com carinho e respeito algumas estratégias.
De acordo com Mindell et al. (2006), associações de sono estão entre os principais fatores comportamentais relacionados às dificuldades para iniciar e manter o sono em bebês e crianças pequenas. Mas isso não significa que há um único caminho certo — cada bebê tem seu tempo, e cada família pode construir um processo de sono que respeite suas escolhas, valores e realidade.
2. Saltos de desenvolvimento e marcos motores: o cérebro em pleno movimento
À medida que o bebê cresce, seu corpo e seu cérebro passam por verdadeiras revoluções. Aprender a rolar, sentar, engatinhar, ficar em pé ou andar são conquistas emocionantes — mas também exigem muito esforço cognitivo e físico. Durante essas fases, popularmente conhecidas como saltos de desenvolvimento, é comum que o sono fique mais agitado e fragmentado.
O cérebro continua “trabalhando” durante a noite, processando as novas habilidades. Muitos bebês, inclusive, tentam praticar o que aprenderam no berço, como se estivessem ensaiando até nos sonhos. Por isso, é natural que esses períodos tragam mais despertares — mas, felizmente, são fases passageiras.
Ter paciência e ajustar as expectativas nesse momento pode ajudar bastante. Lembre-se: seu bebê não está “regredindo” no sono — ele está progredindo em outras áreas, e isso também faz parte do amadurecimento.
3. Ansiedade de separação: quando o sono vira saudade
Entre 6 e 10 meses de vida, muitos bebês passam pelo pico de uma fase chamada ansiedade de separação. É quando começam a perceber que são seres separados da mãe ou da figura de apego — e isso pode causar angústia. Se o bebê acorda no meio da noite e não encontra quem esperava por perto, pode se sentir inseguro e chorar, mesmo sem fome ou dor.
Embora mais comum a partir dos 6 meses, alguns bebês podem começar a apresentar sinais dessa ansiedade por volta dos 4 meses, especialmente os mais sensíveis ou em contextos de mudança (como retorno ao trabalho da mãe ou alterações na rotina). Essa é uma etapa natural e saudável do desenvolvimento emocional, e indica que o bebê está construindo vínculos fortes e formando sua noção de segurança.
Nesses momentos, a presença física, o toque e a previsibilidade da rotina fazem toda a diferença — eles ajudam o bebê a confiar que, mesmo quando você se afasta, sempre volta.
Além disso, ter momentos de conexão durante o dia — com brincadeiras no colo, contato olho no olho, trocas afetuosas e presença real — pode fortalecer esse vínculo e reduzir a necessidade de buscar tanto essa segurança durante a noite.
Com acolhimento, constância e conexão diária, essa fase tende a passar — e o sono, a se reorganizar naturalmente.
4. Desconfortos físicos e ambiente de sono
Alguns despertares também podem ser causados por fatores físicos ou ambientais. Dentinhos nascendo, refluxo, nariz entupido, cólicas, entre outros desconfortos, podem fazer com que o bebê acorde mais vezes — especialmente se estiver em uma posição desconfortável ou em um ambiente com luz, barulhos ou temperatura inadequada.
O ambiente do sono deve ser o mais neutro e aconchegante possível: escuro, silencioso ou com ruído branco constante (se necessário), arejado e com roupas confortáveis. Pequenos ajustes podem fazer uma grande diferença na qualidade do sono.
Se houver suspeita de dor ou desconforto persistente, sempre vale conversar com o pediatra para garantir que está tudo bem com a saúde do seu bebê.
5. Cansaço excessivo: quando o bebê passa do ponto
Parece contraditório, mas bebês muito cansados tendem a dormir pior — e não melhor. Quando ficam acordados por tempo demais ou têm sonecas insuficientes ao longo do dia, o corpo libera mais cortisol (o hormônio do estresse), dificultando tanto o adormecer quanto a manutenção do sono.
Essa condição é chamada de supercansaço, e pode levar a despertares frequentes, sono agitado e dificuldade para relaxar mesmo após acordar. Observar os sinais de sono e respeitar o tempo de vigília adequado para a idade são estratégias importantes para evitar esse ciclo.
A verdade é que um bebê descansado tende a dormir melhor — e isso começa durante o dia.
O que pode ajudar?
A boa notícia é que, mesmo em meio ao cansaço, há caminhos possíveis e respeitosos para melhorar o sono do seu bebê. Cada família é única, mas algumas estratégias são amplamente recomendadas por especialistas em sono infantil — sempre com base em evidências e no desenvolvimento saudável da criança.
Crie uma rotina previsível e acolhedora
Estabelecer uma rotina tranquila no final do dia ajuda o bebê a entender que a hora de dormir está chegando. Um ritual simples e repetido — como banho, massagem, história ou música suave — traz segurança e prepara o corpo e a mente para o descanso. Pesquisas mostram que rotinas consistentes estão associadas a melhor qualidade de sono (Mindell & Williamson, 2018).
Observe os sinais de sono e o tempo de vigília
Respeitar as janelas de sono e os sinais de cansaço do seu bebê pode prevenir o acúmulo de estresse e facilitar tanto o adormecer quanto a continuidade do sono. Bebês descansados geralmente dormem melhor.
Ofereça um ambiente favorável ao sono
Um quarto escuro, silencioso (ou com ruído branco constante), com temperatura agradável e livre de estímulos visuais ou sonoros favorece o sono mais profundo e restaurador. Detalhes simples fazem uma grande diferença.
Construa previsibilidade e segurança emocional
Um bebê que se sente seguro e acolhido durante o dia tende a dormir com mais confiança à noite. A presença afetuosa, a escuta atenta e a conexão constante reforçam a base emocional necessária para que ele possa relaxar — mesmo nas fases mais desafiadoras.
Pronto para dar o próximo passo?
Se você quiser compreender mais profundamente o que está por trás das mudanças do sono e como apoiar o seu bebê em cada fase, a Academia do Sono Infantil está aqui para te ajudar. O nosso Método A.M.A.R. pode te guiar com leveza, empatia e base científica — ajudando sua família a viver o descanso como ele deve ser: natural, respeitoso e cheio de amor.
Por Mariana Friend
Especialista em Sono Infantil, fundadora da Academia do Sono Infantil e criadora do Método A.M.A.R., um modelo de acompanhamento que une ciência, vínculo e respeito ao ritmo único de cada bebê.




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